Para garantir um melhor combate à Covid-19, especialistas alertam para a necessidade de ampliar a vacinação de pessoas que se encontram no chamado grupo de risco. O médico infectologista Gonzalo Vecina Neto, que é ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), ressalta que, embora a pandemia de covid-19 já tenha sido “debelada”, o vírus continua circulando e ainda estão sendo registradas mortes pela doença. “Continuam acontecendo mortes pela covid-19. Então, uma questão importante é atualizar o calendário vacinal”, alerta o especialista.
Segundo avaliação do infectologista, durante a pandemia, observou-se no país momentos muito críticos, como o comportamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e representantes do governo federal, que se posicionavam de forma negacionista e antivacina. Nos dias atuais, o médico ressalta que está sendo verificada uma baixa cobertura de vacinação de crianças. “A mortalidade está muito elevada nas crianças abaixo de 5 anos por causa da baixa cobertura”, acrescentou. As variantes que estão circulando atualmente têm uma grande capacidade de disseminação, mas uma mortalidade mais baixa. No entanto, a doença pode ainda acometer de forma grave especialmente os grupos que têm menos defesas imunológicas.
Tais grupos são os idosos, crianças pequenas, gestantes e portadores de comorbidades. “Esses grupos têm uma fragilidade do ponto de vista de enfrentar imunologicamente o invasor no corpo, por isso eles se beneficiam da vacina. Particularmente esses mais frágeis, ao terem a doença, tem uma maior possibilidade de hospitalização e de morte”, explicou Vecina.
A infectologista do Instituto Emílio Ribas, Rosana Richtmann, destaca que a tendência é que se faça a vacinação anual, especialmente para os grupos de maior risco, utilizando vacinas que consigam dar proteção contra as novas variantes do vírus causador da doença. “O que a gente aprendeu com a covid-19 é que o vírus vai tendo pequenas mutações, ele vai mudando a sua genética, vai escapando da nossa imunidade. Isso é um processo contínuo. Então, muito mais importante do que você me contar quantas doses de vacina de covid-19 você tomou nesses últimos três anos, a minha pergunta seria quando foi a sua última dose e qual vacina você tomou. Se você tiver uma dose atualizada, é suficiente”, explica.
A infectologista destaca também que, nos Estados Unidos, já está disponível a vacina mais atualizada, uma monovalente que combate a variante XBB da doença. “O Brasil está usando a bivalente [que combate cepas anteriores], dentro do país é a mais atual. A gente julga que, neste momento, seria importante o Brasil adquirir essa vacina monovalente atualizada no lugar da bivalente”, defendeu.
Para Richtmann, um dos principais desafios a serem enfrentados neste momento é justamente a vacinação de crianças pequenas, a partir de seis meses de idade (grupo de risco), pois segundo ela, adultos e crianças maiores chegaram a ter a doença ou tomar a vacina, o que garante alguma proteção contra o vírus. “Há um desafio para vacinar essa população, porque é uma população virgem de proteção, eles não têm proteção nem adquirida, nem através da vacinação”, disse. Nesse sentido, a infectologista reforça a importância de a vacinação de crianças contra a covid-19 fazer parte do Programa Nacional de Imunizações (PNI). “No ano passado, tivemos 135 mortes de crianças, o que poderia ter sido prevenido através de vacinação”, conclui.
Foto: Edielson Shinohara/Sesma